terça-feira, 31 de março de 2009

Hoje... 45 anos depois


Interessante como a morte de uma pessoa parece que restaura sua moralidade. Dificilmente se ouve dizer durante um funeral, que fulano de tal, era mau e que a sociedade nem vai sentir sua falta. Geralmente, se ouve a expressão: coitado, tinha lá seus defeitos, porém era um bom coração. Tinha o lado bom de chegar. A única vez que ouvi num funeral a unanimidade: “bem feito, já deveria ter morrido antes. A sociedade nem vai sentir sua falta”, foi quando acabou o AI 5 – O ato Institucional número Cinco. Abordo sobre isso, pois estamos hoje lembrando o início do golpe de estado que depôs o presidente João Goulart em 31 de março de 1964. Pior é saber que ainda hoje tem gente, que embora esclarecida, se diz favorável aos tempos de linha dura da farda oliva. Confesso, que naqueles tempos bicudos e que se maquiava “um milagre brasileiro”, em que muita gente foi presa e torturada, outros morreram ou desapareceram, também sofri a censura no rádio. De 70 até a chegada da redemocratização na década de 80. Poderia ter sido mais agressivo na linguagem do rádio. E disso me arrependo de não ter feito. Gostaria, até de ter tido a experiência de ser preso.Vejo um certo charme ter a marca de cabrito que vai para o calabouço, porém esperniando. Sempre achei virtude a inconformidade. Nunca gostei de cabrito que não berra. Quantas fitas levadas das programações de rádio nos anos de chumbo!Apenas sustos no Manhã Musical, na minha primeira emissora, aqui ao lado. Incluo no meu passado, de nunca ter pactuado com os perseguidores. Briguei sempre pela liberdade de expressão. Lembro que de forma pioneira na imprensa gaúcha do interior, cobri em Brasília, sitiada pelas tropas do general Newton Cruz, a tentativa de aprovação da Emenda Constitucional Dante de Oliveira, que propunha as eleições diretas no Brasil. Desgraçadamente não foi aprovada. Estava eu no plenário da Câmara dos Deputados, e também chorando por não vingar o sonho das eleições diretas, que impediu o Brasil de iniciar mais cedo a caminhada de volta para a democracia. Respeito a integridade de alguns militares cidadãos. Não desejo que se passe novamente pelo crivo da censura e da falta de liberdade para ir e vir, num país que nasceu para ser livre. Com todo o respeito ao que você leitor possa pensar, e pela leitura que possa fazer da história e dos tempos da ditadura, por ter conhecido de perto, não desejo para ninguém a experiência de ter que pensar sobre o que se pretende dizer. Tenho por experiência e convicção de que por mais imperfeita que seja a democracia, sempre será preferível, do que regimes que tolhem o mais elementar dos direitos do cidadão - do livre pensar e de dizer livremente. Compreendo as razões dos que não concordam com a corrupção de hoje, no Senado, dos políticos, em outras instâncias do poder, dos oportunistas que assaltam os cofres públicos, do tráfego de influência, da promiscuidade e prostituição política, e tudo o mais que corresponde de nefasto no momento do país. Porém, mil vezes a Democracia. Neste 3l de março, nenhum tipo de saudade do passado recente. Ditadura, nunca mais.

Confira o discurso de Jango. Clique no endereço abaixo.



"Em 13 de março de 1964, Jango discursou na Central do Brasil para 150 mil pessoas. Ele anunciou reformas, como a nacionalização de refinarias de petróleo e a desapropriação de terras para a implementação da reforma agrária, numa tentativa desesperada de conseguir apoio popular.(Wikipedia)".

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